I hope you don’t mind, I hope you don’t mind
That I put down in words
How wonderful life is while you’re in the world
- Elton John, Your Song
Sentimentos são coisas engraçadas.
Você pode fazer uma lista de sintomas físicos que sinalizam os sentimentos. Coração palpitante, suor, frio na barriga, pupilas dilatadas, calor e vermelhidão no rosto e nas orelhas, arrepio na espinha, lágrimas. São todos sintomas, todos sinalizam sentimentos fortes sendo vividos naquele instante. Dizer os sintomas físicos é muito fácil, mas você consegue expressar em palavras algum dos sentimentos que causam esses sinais?
Eu não.
Pelo menos não sou muito bom em expressar isso em palavras faladas. Mas descobri que sou bem melhor escrevendo.
Eu sempre me refugio nas letras. Sempre foi assim. Primeiro lendo, depois escrevendo. Papel e tinta – ou tela e teclado – são muito mais fáceis de manipular, moldar ao nosso gosto.
Ao falar você pode dizer uma coisa de um modo que pode não ser bem compreendido, ou expressar um significado diferente para o que realmente queria. Durante conversas estamos tão concentrados nas nossas próprias ideias, nos nossos pensamentos, no que iremos dizer a seguir, que muitas vezes não ouvimos muito bem o que o outro quer dizer. Na confusão podemos dizer o que não queremos, ou que não podíamos.
Nas letras não é assim. Há tempo para pensar, há tempo para organizar as ideias dentro da própria cabeça. Tempo para achar o melhor jeito de dizer, ou de não dizer.
Ainda me lembro das minhas primeiras palavras em uma caligrafia incerta, escondidas em meio a tantas outras folhas em branco do caderno da escola, tímidas.
Ainda lembro dos primeiros versos tortos, que nunca acharam um jeito de se sustentar.
Mas sobretudo ainda lembro dos primeiros sentimentos.
Lembro principalmente pois eu os fotografei no papel. Eternizados, eu posso admirar, ainda posso reviver, posso rir e posso chorar com as doces e amargas lembranças. Todas aquelas coisas que continuariam para que eu seja o ser humano que hoje sou.
E eu ainda lembro da primeira carta de amor. Eu ainda guardo. Nossos maiores tesouros não podemos perder facilmente.
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