Quando eu chego em casa, me movo por entre os objetos colocados no chão do quarto. Tiro a roupa e a jogo desajeitadamente em cima de qualquer coisa. Eu sei que uma hora ou outra elas vão acabar no chão junto com as outras coisas, mas naquela hora eu não ligo.
Afundo na cama com um suspiro profundo. Meu corpo inteiro agradece.
Fico um instante imóvel, mas nunca dura muito tempo. Logo minhas mãos deslizam pelo colchão procurando algo que não vai encontrar. Não está ali.
Mudo de posição. Um barulho qualquer sai da minha garganta, sem que eu perceba que produzi o som. Me movo mais uma vez, mas nunca encontro uma posição conformável. É como se meu corpo soubesse que há algo de errado. Mas não há. Está tudo perfeitamente igual à antes.
Mesmo assim está errado. Falta algo. Algo que nunca esteve naquele lugar.
Minha mente sempre vai para ela instintivamente. Mas não quero isso agora. Não quero me consumir em lamentos e confusão.
Penso em outras coisas. Ela volta. Tento de novo. É em vão. Ela volta. Ela sempre volta.
Desisto. Meus pensamentos vagam sobre essa situação. Nossa situação. Concluo que eu sou um desastre. Um completo desastre em matéria de relacionamento.
Produzo mais um som sem querer. É um gemido misturado com suspiro. Aperto o travesseiro, mas é seu corpo que eu queria apertar. Puxo ele pra perto querendo me sentir menos sozinho. Concluo mais uma vez como eu sou um desastre. Um desastre em tudo.
Lamento a injustiça das coisas. Essa distância de merda me dá raiva. E me assusta.
Me dá raiva eu estar me contorcendo sozinho em um colchão enquanto eu nem sei o que ela faz. Me assusta o que essa distancia traz. Nos aproximamos, de um jeito inesperado e mais do que imaginava. Mas sempre estivemos mais distantes do que podemos mensurar.
Pego o celular colocado no chão do lado da cama e mando uma mensagem qualquer, só pra começar uma conversa. A resposta demora. Eu espero.
Nada.
Raiva.
Levanto e resolvo esquecer o celular e ela. Tomo um banho pra renovar as forçar e vou fazer o que deve ser feito pela casa. Estudo um pouco. Leio um livro, vejo uma série. Lembro do celular.
A resposta veio.
Ainda estou magoado com a demora. Respondo seco. Ela brinca. Eu ironizo. Ela me liga. Eu deixo tocar uma, duas vezes. Mas não aguento. Só a voz dela já me tira um sorriso dos lábios. Tenho ódio de mim, mas nem tanto.
Ainda acho injusto. Tendo esfriar meus sentimentos, pois não devemos nada um ao outro. Não posso cobrar nada, não tenho esse direito. Não posso dar nada em troca.
Mesmo assim a vontade que eu tenho de controlar os seus passos sempre volta. Procuro não ser chato, guardo isso só pra mim, mas nem sempre dá.
Por vezes parece que ela quer me irritar. Outras ela me irrita sem querer. Eu penso e despenso. Desisto, mas sempre volto atrás.
Volto pra cama. E minhas mãos deslizam pelo colchão procurando algo que nunca esteve aqui.
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